Bilhete de C. depois da visita à Penitenciária de Coimbra
"Hoje, estive na prisão e não gostei. Era convidada (...)
Nunca tinha entrado na Prisão de Coimbra, só noutras mais pequenas, mas já nem tinha memória das grades. Todos os dias passo ao lado daquelas vidas ali guardadas e como me fui esquecer que há gente retida lá dentro e nunca penso neles!!!
Bom, é gente igual a nós, mais pálida é certo e que se excitam à entrada das visitas com gritos e batimentos nas grades. O som é terível, o edifício é enorme e faz um eco ensurdecedor, Depois, as visitas deviam trazer novidades do mundo, mas nada, nem isso podíamos fazer. Só ver, olhar e apreciar.
Os olhos dos retidos andavam esbugalhados, os dos funcionários também e não fosse a farda, nada os distinguia. O ar esgaseado era o mesmo e nenhum deles sabia o que vinha no minuto seguinte, o que iriam fazer. A segurança é muito estranha lá dentro, é falsa e ninguém confia em ninguém. Paira a desconfiança, paira um cheiro próximo do da morte, se é que tem cheiro, porque ali toda a gente está moribunda. Já lá entrou? já viu onde recebem as visitas? Os filhos e as namoradas?.
Não vi as celas, só ouvi alguns a baterem à porta. Não tinham muita força, não insistiam nos batimentos, mas queriam dizer que havia ali gente.
Fiquei chateada comigo, lembro-me sempre dos doentes que estão no hospital, privados de tudo e há muito tempo que me esqueci que as prisões também existem. Se calhar dava jeito esquecer que ali há gente. Estarão ali os fora da lei, os anti-sociais. Será????
Mas, o mais estranho disto tudo, é que a prisão é linda!!!, isto é o edifício.
É um desabafo.
C. "
Nunca tinha entrado na Prisão de Coimbra, só noutras mais pequenas, mas já nem tinha memória das grades. Todos os dias passo ao lado daquelas vidas ali guardadas e como me fui esquecer que há gente retida lá dentro e nunca penso neles!!!
Bom, é gente igual a nós, mais pálida é certo e que se excitam à entrada das visitas com gritos e batimentos nas grades. O som é terível, o edifício é enorme e faz um eco ensurdecedor, Depois, as visitas deviam trazer novidades do mundo, mas nada, nem isso podíamos fazer. Só ver, olhar e apreciar.
Os olhos dos retidos andavam esbugalhados, os dos funcionários também e não fosse a farda, nada os distinguia. O ar esgaseado era o mesmo e nenhum deles sabia o que vinha no minuto seguinte, o que iriam fazer. A segurança é muito estranha lá dentro, é falsa e ninguém confia em ninguém. Paira a desconfiança, paira um cheiro próximo do da morte, se é que tem cheiro, porque ali toda a gente está moribunda. Já lá entrou? já viu onde recebem as visitas? Os filhos e as namoradas?.
Não vi as celas, só ouvi alguns a baterem à porta. Não tinham muita força, não insistiam nos batimentos, mas queriam dizer que havia ali gente.
Fiquei chateada comigo, lembro-me sempre dos doentes que estão no hospital, privados de tudo e há muito tempo que me esqueci que as prisões também existem. Se calhar dava jeito esquecer que ali há gente. Estarão ali os fora da lei, os anti-sociais. Será????
Mas, o mais estranho disto tudo, é que a prisão é linda!!!, isto é o edifício.
É um desabafo.
C. "
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