I would prefer not to
Foi Enrique Vila- Matas quem cunhou a designação de síndrome de Bartleby para "a pulsão negativa ou atracção pelo nada que faz que certos criadores, embora tendo uma consciência literária muito exigente nunca cheguem a escrever; ou escrevam um ou dois livros e depois renunciem à escrita..." No seu estranho livro Vila-Matas faz a recensão de vários destes escritores que depois de um mais ou menos breve fulgor, se calaram. J.V.Foix que sonhava poemas pelas noites embora não os escrevesse; J.D.Salinger em silêncio desde 1963 após meteórica glória; Enrique Banchs que Borges celebrou; os nossos Edmundo de Bettencourt e o barão de Teive, o semi-heterónimo suicida de Pessoa; Maria Lima Mendes paralisada pelo "chosisme" do nouveau roman e Maupassant pela imortalidade...
Ana Paula Inácio de quem dizem ter nascido no Porto em 1966 e viver actualmente nos Açores, publicou As vinhas de meu pai (Quasi) e Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas). Em quase todos os seus textos perpassa a dúvida sobre a utilidade das palavras: "o que poderás dizer que não se dissolva em pó?"; "fechei em código toda a escrita". De uma estirpe de solitários, ("trago esta sombra comigo") ela queria atirar" pedras, margas, basalto, xisto ", descobrir o mundo ". Mas situando-se no "lado incerto onde bate o vento" não lhe resta senão nomear as Árvores, outras coisas simples de que se fazem os poemas e "esperar que o tempo faça o resto". Em 2002 publicou uma recolha de pequenos contos, "Os Invisíveis", onde personagens se vão progressivamente apagando até nada restar deles, nem as palavras secas com que são descritos.
Agora, como foi anunciado por um antologiador (ver Relâmpago, 2003) disse que não tinha nenhum inédito disponível.
Não sei mesmo se existe. Ontem pedi que me dissessem onde vive, em que ilha dos Açores? A minha caixa de correio estava vazia. Pode ser que, como Vila-Matas com Salinger, a encontre por acaso ao fundo de um autocarro ou à porta de uma dessas casas da ilha do Pico onde é inevitável ver-se o mar, sentada nas escadas, abraçando os joelhos aterrorizada por ter perdido a chave. Mas eu não sou Vila-Matas.
Bartleby, Herman Melville, tradução de Gil de Carvalho, Assírio e Alvim, 1988
Bartleby e Companhia, Enrique Vila-Matas, tradução de José Agostinho Baptista, Assírio e Alvim, 2001
Ana Paula Inácio de quem dizem ter nascido no Porto em 1966 e viver actualmente nos Açores, publicou As vinhas de meu pai (Quasi) e Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas). Em quase todos os seus textos perpassa a dúvida sobre a utilidade das palavras: "o que poderás dizer que não se dissolva em pó?"; "fechei em código toda a escrita". De uma estirpe de solitários, ("trago esta sombra comigo") ela queria atirar" pedras, margas, basalto, xisto ", descobrir o mundo ". Mas situando-se no "lado incerto onde bate o vento" não lhe resta senão nomear as Árvores, outras coisas simples de que se fazem os poemas e "esperar que o tempo faça o resto". Em 2002 publicou uma recolha de pequenos contos, "Os Invisíveis", onde personagens se vão progressivamente apagando até nada restar deles, nem as palavras secas com que são descritos.
Agora, como foi anunciado por um antologiador (ver Relâmpago, 2003) disse que não tinha nenhum inédito disponível.
Não sei mesmo se existe. Ontem pedi que me dissessem onde vive, em que ilha dos Açores? A minha caixa de correio estava vazia. Pode ser que, como Vila-Matas com Salinger, a encontre por acaso ao fundo de um autocarro ou à porta de uma dessas casas da ilha do Pico onde é inevitável ver-se o mar, sentada nas escadas, abraçando os joelhos aterrorizada por ter perdido a chave. Mas eu não sou Vila-Matas.
Bartleby, Herman Melville, tradução de Gil de Carvalho, Assírio e Alvim, 1988
Bartleby e Companhia, Enrique Vila-Matas, tradução de José Agostinho Baptista, Assírio e Alvim, 2001
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