E agora José? E agora Rosario?
Na contra-capa de El mal de Montano uma fotografia de Enrique Vila-Matas. Olha-nos de frente, talvez de um plano ligeiramente mais baixo que o nosso. A mão direita, à altura do queixo, segura um cigarro. Veste um blaser preto e uma camisa clara, de colarinho apertado. Olha-nos, interrogativamente, com os olhos muito abertos, a boca fechada, o rosto mal barbeado.
Na capa outra fotografia perturbadora. Um ser andrógino, de branco, camisa masculina de mangas, calça turca apertada justamente acima dos tornozelos estreitos, babouches brancas, gravata e cintos finos, escuros. Tem um cigarro na boca. Dir-se-ia sorrir. Mas pode ser apenas o esgar da boca que segura um cigarro enquanto a mão direit risca um fósforo. O corpo desenha uma convexidade e, se esquecêssemos o pormenor dos fósforos, podia sugerir o movimento do boxeur que prepara um ataque.
A face é estranhamente parecida com a de Vila-Matas. A mesma fronte alta e ovalada, as mesmas sobrancelhas , o mesmo queixo voluntarioso. Vila-Matas nasceu em 1948 e a foto é de Júlio Vivas, chama-se “Mujer de un pintor” e é de Colónia, c. 1924-1928, embora o fundo- um fragmento de um quadro e um painel com um arabesco, sejam singularmente actuais.
Na página 132 o narrador Vilamateano dá-nos uma chave para uma das fotos. Diz-nos que, à semelhança do que fez José Cardoso Pires aos cinquenta anos, lhe deu para fumar frente ao espelho e perguntar. E agora, José. Ele, perigosamente deixado em casa num longo fim de semana em que todos parecem ter desertado, pergunta: E agora, Rosário. (Rosário Girondo é o matrónimo do narrador vilamateano, o nome da mãe, autora do inédito Teoria de Budapest, e o nome com que o narrador assina os seus livros).
E num diálogo hamletiano, ao espelho, ouve uma voz que lhe diz:
-Agora. Continua a fumar.
Na capa outra fotografia perturbadora. Um ser andrógino, de branco, camisa masculina de mangas, calça turca apertada justamente acima dos tornozelos estreitos, babouches brancas, gravata e cintos finos, escuros. Tem um cigarro na boca. Dir-se-ia sorrir. Mas pode ser apenas o esgar da boca que segura um cigarro enquanto a mão direit risca um fósforo. O corpo desenha uma convexidade e, se esquecêssemos o pormenor dos fósforos, podia sugerir o movimento do boxeur que prepara um ataque.
A face é estranhamente parecida com a de Vila-Matas. A mesma fronte alta e ovalada, as mesmas sobrancelhas , o mesmo queixo voluntarioso. Vila-Matas nasceu em 1948 e a foto é de Júlio Vivas, chama-se “Mujer de un pintor” e é de Colónia, c. 1924-1928, embora o fundo- um fragmento de um quadro e um painel com um arabesco, sejam singularmente actuais.
Na página 132 o narrador Vilamateano dá-nos uma chave para uma das fotos. Diz-nos que, à semelhança do que fez José Cardoso Pires aos cinquenta anos, lhe deu para fumar frente ao espelho e perguntar. E agora, José. Ele, perigosamente deixado em casa num longo fim de semana em que todos parecem ter desertado, pergunta: E agora, Rosário. (Rosário Girondo é o matrónimo do narrador vilamateano, o nome da mãe, autora do inédito Teoria de Budapest, e o nome com que o narrador assina os seus livros).
E num diálogo hamletiano, ao espelho, ouve uma voz que lhe diz:
-Agora. Continua a fumar.
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