31 agosto 2003

Explicação a Stig Dagerman da nossa impossibilidade de consolo ( com um pedido de desculpa aos cientistas pelas simplificações).

Somos matéria. Somos uma forma de organização de matéria que encontra no funcionamento do sistema nervoso central a sua forma superior de realização. A pequena a diferença que temos relativamente a sistemas físicos mais estáveis: um conjunto de reacções que permanentemente asseguram o desequilíbrio a que chamamos vida- a produção, transformação e conservação de energia necessária ao funcionamento dos genes e à  produção de proteínas. A nossa diferença é esse desequilí­brio. Mas estranhamente, alguma coisa em nós aspira não apenas à  compreensão do mundo mas à  contiguidade absoluta com ele. Esse instante de máxima compreensão, em que se apaga a angústia, é a morte. O extase amoroso, a experiência mí­stica, o cansaço fí­sico extremo são algumas das aproximações que conhecemos desse estado de plenitude que é simultaneamente um momento de aniquilação. Os grandes filósofos foram suicidas embora lhes possa ter sucedido falhar o momento adequado e acharem-se como Borges aos 85 anos: agora resta-me esperar o meu suicídio natural.

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