15 agosto 2003

O parasitismo literário

Esta declaração deveria ser ter sido feita há mais tempo, quando começámos A Natureza do Mal. Julguei que fosse desnecessária, por demais evidente. Mas agora André Bonirre leu o nosso blog – e passou algumas horas lendo outros. Acato o seu conselho, faço a advertência.
Há vozes originais na blogosfera, e uma delas bem próxima. Mas tudo o que escrevo, ou digo, ou sinto é de outros. Alguns tenho-os nomeado, citado, transcrito. Outros não. Foi assim com Ruy Belo, no início deste Verão, quando não se adivinhava que viesse a ser tão trágico. A alguns, que parecem sair do nada, como pequenos pontos luminosos e depois rapidamente ao nada retornar, tenho resistido a dizer, como o fez A. Franco Alexandre : meu amor não morras nunca mais. O Congresso que terá lugar em Milão e onde Angélica Pabst se deitará numa cama, obviamente nada electrónica, é um capítulo ainda não escrito, mas nem por isso mais criativo, roubado a Lodge. O crime pelo qual aguardo julgamento está descrito num dos livros de Javier Marias- que não vou indicar apenas para não prejudicar a minha defesa. O lamento sobre a ausência de eco, mesmo quando gritamos, foi Rilke quem o soltou de forma inesquecível. Espero que tenham reconhecido Eliot, Benjamim, Hanna Arendt. A fuga dissociativa, tema sobre que espero postar ainda hoje, e que tanto me atrai, tem vindo a ser tratado, sob um ponto de vista dramático, por um colectivo britânico.
Não sou pois o autor de nada do que escrevo. Ou sinto. Sobretudo daquilo em que julgais ver algum mérito. Considerem-me um parasita literário.
Mesmo esta confissão tardia foi copiada a Vila-Matas. Ou como ele diria: a percentagem de cópia foi oitenta e cinco por cento. Espero que assim André Bonirre me possa ler com mais sossego.

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