05 setembro 2003

Exposição (2)

O homem é afinal Robert Walser. Está vestido de preto, muito formalmente. A cara, pálida, parece a cara pintada de branco das prostitutas chinesas. Uma mulher procura, lentamente, livros nas estantes. É tão alta que as estantes mais altas lhe são acessíveis, ou se curvam para ela. Escolhe um livro com um gesto tão gentil que às vezes parece tocar apenas o espaço entre dois livros. Selecciona uma passagem. Como se entre eles existisse uma combinação prévia, atravessa a sala e entrega o livro a Robert Walser, com a página assinalada. Ele lê, primeiro em silêncio, sorri como se fizesse o reconhecimento do texto, levanta para ela um olhar agradecido, recomeça a ler. De cada vez que isto acontece ela aproxima-se mais, para conseguir ouvir as palavras que ele agora recita, em surdina. Seguem-na, curiosos, alguns visitantes. No fim de cada leitura ele devolve o livro e pergunta-lhe o nome. Os visitantes decoram o autor do livro escolhido, a passagem seleccionada, os vários nomes da mulher. Agora chama-se Melousine.

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