Vendre un inconnu à des inconnus
Acho que o bicho escala estantes é um livreiro. E deve ser um livreiro bom e um bom livreiro porque pessoas que estimo o tratam bem, mesmo sem eu perceber se o merece. Já me deu uma frase lindíssima de um livro que vendeu a um desconhecido. A revista Lire, de Setembro, edita um pequeno suplemento sobre os livreiros intitulado "Vendre un inconnu à des inconnus". Neste caso o bicho não vendia um desconhecido, embora tratasse os clientes por desconhecidos parvos. Adoro os livreiros, embora os bichos escala estantes rareiem. Na terra onde vivo escasseiam mesmo as livrarias. Mas numa delas, onde o bicho-propietário mal é visto, há uma assalariada que já leu Ana Paula Inácio, sabe que Sara Adamopoulos não deve estar na estante da ficção estrangeira, conhece editoras menores como a Averno, e corou deliciosamente quando lhe perguntei se já tinha lido a Maria do Rosário Pedreira -para ela, até ali, "a editora de Temas e Debates". Agora, quando entro a deshoras, ela procura, debaixo do balcão um livro que guardou para mim e eu finjo não conhecer, folheio com falsa surpresa e verdadeiro prazer, agradeço-lhe do coração e estou assim a fazer uma biblioteca dela que lhe tenciono oferecer quando o contrato a termo certo acabar e o bicho- patrão, este que já não escala estantes, a despedir.
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