13 outubro 2003

Bebo como tu


[Ao Manuel de Freitas]

Vou pelos teus sí­tios
calçada dos Mestres, rua de Campolide,
taberna de Dona Maria, ao Rego.
É domingo ou feriado
fugiram todos
ou casaram-se no verão
em todos os verões passados e futuros
com lista
e copo de água pago pelos pais
Peço as bebidas fortes
e lembro-me de ti
e dos teus versos.
François Villon foi meu contemporâneo
-literalmente, como diz o outro.
Sofri recentemente de um mal sem cura
A doença de Montano.
Nunca o cadáver de deus me atormentou
e sei que é do gin que bebo
o sentido que ao crepúsculo possa achar
ao que leio ou escrevo.
Do gin e do grepúsculo.


Aqui na tasca
debruçado sobre os teus versos
longe da livraria
onde ainda não pousou
o pó tóxico de mais um lançamento literário
o gato aproxima-se para lamber a mão
que não lerá nunca mais
os poetas mortos em 61

Aqui ao balcão
ou na mesa do fundo
vendo passar os que podem bem ser
os teus amigos
vivos ou mortos

um lugar como os outros
(oh mas bem melhor que os lugares
fúteis execráveis lugares deles)
para me encharcar
com a noção de gravidade
e do mistério
da morte.

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