03 outubro 2003

A educação de Rita (em risco)

Estava a ver-se. Só faço asneiras nos últimos tempos. Engano-me nos comentários e nas caixas de correio. Armo-me em ridículo conselheiro literário (só mesmo a blogosfera ne podia dar esse estatuto). Li as Cartas do Rilke a Um jovem Poeta e tresli. Devo parar, pergunto-me? Os meus amigos tratam-me com a distância e o desvelo que se reserva aos doentes incuráveis. Só faltave esta: a Rita, o meu poeta favorito de Setembro , que percebo ser o nome colectivo que reúne três dos meus links favoritos, (coluna ao lado), manda-me esta carta. Não há consolo para o lamento mudo.

Mestre
Desvanece-me
O seu desvelo
pela minha educação formal.

Os seus conselhos
Repito-os em surdina.
Os livros que me dá
Levo-os comigo.

As palavras que gentilmente envia
São a correnteza da minha respiração.

Em breve serei uma criatura sua.
Perversa, original, sofisticada.

Um pequeno senão
Lhe devo no entanto
Confessar
E faço-o agora não vá a sua natureza volátil
Dissipar
Antes do tempo
O tempo que com espanto
Me vem dar

Antes de si
Quase não lia
Não há livros em casa de meus pais
E até na conta do merceeiro
Damos erros

Pior que isso são os meus pés
Os tornozelos grossos
O arco abatido
Não cabem nos chinelos delicados
Agora em voga

Nada disto é de monta
Para si querido Mestre
Não o desaponta
Um pormenor como este
A si que tem em conta
A escuridão dos fundos

Não o amedronta
A imperfeição do Mundo

Rita


0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial