03 outubro 2003

O casaco de cabedal

Encontrei-o na rua, por acaso, vinha a andar mal e assustou-me. A meio caminho da pressa para onde eu ía e da calma de onde ele vinha, calhámos os dois. Temos um daqueles entendimentos que não precisa da muleta das palavras para se manter. Já não o via há uns anos. O casaco é que ainda era o mesmo, de cabedal com as letras CK gravadas no couro escuro já sem cor definida, já meio sumidas. Afinal ele estava só com uma bolha no pé por causa dos sapatos. Ao K
faltava-lhe uma perna e quase quase se transmutava noutra letra do mesmo alfabeto. Tinha um ar confortável, sempre achei, podia usá-lo todos os dias sem cansaço ou tédio, ou esquecê-lo guardado no guardafato de uma casa visitada. Encontro assim é um luxo, conforto assim é um luxo.

PC

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