27 outubro 2003

Sena e Quintela (polémica já antiga)

Paulo Quintela foi um germanista, professor de Letras em Coimbra, fundador e director artístico do TEUC, tradutor de Rilke, Hölderlin, Brecht, entre outros.
Jorge de Sena não necessita de apresentações.
Em 1955, Quintela traduziu Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, que o Instituto Alemão da Universidade de Coimbra editou. Não há em português prosa desta- escreveu então, como antes dele não a havia em alemão.
No prefácio do livro dedicou a Jorge de Sena as seguintes frases: Mas eis que um tabelião das nossas letras- ou seu caixeiro, conforme se encare como inventário ou balanço aquilo a que chama Tentativa de um Panorama Coordenado da Literatura Portuguesa de 1900 a 1950- me quer distinguir, mimoseando-me com a duvidosa honra da inclusão do meu nome no seu catálogo de arrumação literária. Trata-se (...) do senhor Jorge de Sena que em Tetracórnio, organizado por J. Augusto França, a pág 22, na esfalfada e retorcida sequência- ou inconseqência- de uma prosa que vai bem ao título da publicação, abusou do seu múnus de crítico (?), porque nem o mandei lavrar aquelas linhas, nem eu era merecedor da sua charrua que, assim como assim, não tem relha para a minha leiva. etc, etc.

Em 1999, numa daquelas edições de Natal, Mécia de Sena tornou públicos alguns inéditos de Jorge de Sena (este inconveniente que atinge alguns criadores de deixar espólio e viúvas...). Entre eles, datado de 30 de Setembro de 1970, o seguinte: Quintelas há que Paulos se desunham/ de fúrias teatrais e tradutórias/e que em décadas de teses sepultadas/se fazem tão ilustres, tão minervas,/ que treme aquele que se não desfaça/ ante os humores do génio eczemático./Da Lusa Atenas macha cariátide/desde Heines sem nome em tempo de Hitler/ às devoções das Vértices marmotas/ passando o pêlo aos jovens cudibundos/
se rilkizando em Goethes da Couraça.


Não o mandei lavrar aquelas linhas nem era merecedor daquela charrua. Não tem relha para a minha leiva; cudibundo; macha cariátide; rilkizar-se! Directos para o Dicionário de O Mal.

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