12 outubro 2003

Vila-Matas

Não há nada para dizer. Salvo que, sem a literatura a vida não tem sentido.
Foi assim que Enrique Vila-Matas se dirigiu às cerca de 150 pessoas que tinham ocupado a Biblioteca Grand-Parc em Bordeaux, ontem sábado, passava pouco das cinco da tarde.
Na verdade ele disse: "No hay nada que decir, salvo que, sin la literatura, la vida no tiene sentido". Quase ninguém na assistência falava castelhano pelo que se seguiu um longo silêncio. Depois alguns sussurros, risos nervosos, agitação de nádegas, tosse. Enrique continuava silencioso. Parecia aborrecido, como se esperasse algo. Ao fim de algum tempo de indecisão um elemento da organizaçã levantou-se da segunda fila e disse: " On ne sait jamais quand M. Vila-Matas parle sérieusement." Enrique interrompeu perguntando-lhe quem era. Quando ele lhe declarou ser um editor, Vila-Matas disse, virado para o público: Trabajan con entusiasmo contra lo literario.Inimigos acérrimos de lo literario y aliados directos de la mugre de Pico.
Como alguns na assistência rissem, Enrique interpelou-os perguntando -lhes como ganhavam a vida: Nous sommes des écrivains, ouviu-se na sala. Vila-Matas olhou-os com um olhar severo, embora se saiba que não tem outras emoções que as literárias, e trovejou: Essa raça, imitadores do já feito, e gente absolutamente falha de ambição literária, embora não de ambições económicas, é uma praga ainda mais perniciosa que os editores.Nessa altura abeirei-me dele tentando perceber se tudo estava bem. "Não vês que o meu corpo é a própria história da literatura?"disse-me e pareceu sincero. Como conseguiste? ainda lhe perguntei. "Encharcaram-me em batatas no almoço dos poetas mortos."-retorquiu.

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