Cinzas que o tempo esmaga. Cinza
Anfiteatro da Reitoria da Universidade de Coimbra, manhã de sexta-feira, decorria o conjunto de conferências sobre Oriente-Ocidente e falava Cláudio Torres. O Anfiteatro tem aquele ar anos oitenta desconsolados. É tudo grande demais, longe de mais, desconfortável, descuidado. O pior de tudo é a assistência. Muito velhos e muito novos. Os muito velhos estão de costas, impassíveis. Adivinho-os atentos. Os muito novos são quase todos mulheres recém desembarcadas em Coimbra-B, feias e com excesso de peso, cabelos sem brilho, tirando apontamentos como se uma avaliação lhes estivesse iminente. Quando Cláudio Torres acaba de falar, um dos organizadores, dirigindo-se aos estudantes, saúda-os e diz-lhes que aquela iniciativa só teria sentido com a sua participação. Parece que entretidos com a latada só agora aparecem. O organizador passa a apresentar Ohmar Kayan, o poeta da Pérsia muçulmana que viveu de 1048 a 1123 e foi uma presença da cultura grega, quando o ocidente cristão ainda gatinhava, entretido na "ruminação da palavra divina". Estava o professor a dar estes dados, quando, à uma, as estudantes se levantaram, e saíram, primeiro para o átrio , onde acenderam uns cigarros, e depois sabe-se lá para onde.
Foram já só os velhos a ouvir a Natália e o Jorge Fragoso, que diziam:
"A vida escoa-se
Que resta de Bagdad?
O menor toque é fatal à rosa
desabrochada.
Bebe vinho
evocando as civilizações que já viu
extinguirem-se"
Foram já só os velhos a ouvir a Natália e o Jorge Fragoso, que diziam:
"A vida escoa-se
Que resta de Bagdad?
O menor toque é fatal à rosa
desabrochada.
Bebe vinho
evocando as civilizações que já viu
extinguirem-se"
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