Disgrace, a história de um homem branco
Um homem, um professor branco na África do Sul post apartheid, encontra-se no início da velhice, só. Seduz- ele sabia fazê-lo, uma aluna, trinta anos mais nova, negra. Acusado de abuso, é julgado por um comité de pares, presidido por um religioso, provavelmente negro, e constituído também por representantes da sociedade (tipo rtp 2 no contexto sul africano). Admite a culpa, mas não o arrependimento, e é expulso.
Durante o processo está sozinho. Nenhum amigo ou colega ou camarada ou ex amante. A comunicação social comporta-se como era de esperar. O moinho de condenação.
Sai da cidade e procura a filha. Esta tenta iniciar, no campo, uma vida de agricultora. Talvez tenha sido anbandonada: cultiva plantas e tem um hospício de cães. Um negro comprou a terra contígua e ajuda-a nessas tarefas.
Numa manhã, um grupo de três negros agride o homem, manieta-o e incendeia-lhe a cabeça; abate à queima roupa os cães presos no canil; viola repetidamente a filha do homem. Os pedidos de socorro não foram ouvidos, porque o colaborador negro da casa ao lado se tinha afastado, nesse dia, para só regressar quando a agressão, o roubo e a violação estavam consumadas.
A polícia não fez nada. A mulher não participou da violação.
O ex - professor ajuda, benevolamente, uma mulher feia que tem uma clínica de animais. Escreve o libreto de uma ópera sobre os amores italianos de Teresa e de Lord Byron. Procura reaver a sua filha. Talvez tenha visitado a família da jovem aluna que o expulsou da sua vida de professor branco da Cidade do Cabo, a quem teatralmente, ajoelha um arrependimento que não sente verdadeiramente.
De um lado para o outro vive os seus últimos dias de errancia ciente de que só aos jovens a errancia é permitida. A errancia, o amor, a paixão, o sexo.
Afastado do desejo da aluna por uma dupla interdição: a da idade e a da raça. Embora a interdição da raça não seja nomeável.
Afastado do amor da filha por uma incompreensão da nova realidade: a Àfrica do Sul é um lugar de negros, onde o gado voltará a pastar em Rondebosch Common, o assalto e o roubo representam apenas a normal circulação dos bens usurpados, os genes do homem branco se misturam, como sempre, pela violação.
Resta-lhe esperar que o dinheiro acabe, num quarto que alugou com um nome falso e onde não lhe é permitido cozinhar. A sua filha será a terceira mulher do vizinho negro. A sua ópera nunca terminará. Entrega à morte, numa das sessões de lösung que se vão tornando cada vez mais difíceis, o único ser que o amava verdadeiramente e ouvia com deleite a sua música.
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