11 dezembro 2003

ÃOS E ÃS SURDOS

Entrei, algo reservado, na zona reservada, onde o direito de admissão é reservado.
Sentado no interior da reserva, ouço, ao meu lado, um cidadão visivelmente empreendedor a dar a sua lição de sapiência sobre A (sua) Propriedade Privada a uma cidadã citadina, por sinal com notáveis propriedades. À minha direita, ouço, sem dificuldade, um animado debate sobre Iniciativas Privadas, alegrado por duas cidadãs consumidoras e por um voluntarioso cidadão financiador. Mais ao lado, uma portuguesa comercial e um falante português suave permutam sonoras palavras (cidadãs) em prol do Mercado Livre no Mundo Livre.
Janto e durante o jantar, de toda a vasta reserva, chegam mais conversas, todas pouco privadas e nada reservadas, sobre o Estado da Reserva da Nação e as Privatizações do Futuro. À minha volta, só cidadãs e cidadãos com espírito ganhador, tudo portuguesas e portugueses de sucesso e de muito sucesso, todos (só) falam alto e de muito alto, surdos, coitados.. ah, já me esquecia, também havia homens e mulheres, falavam baixo, trabalhadores..

André Bonirre

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