23 dezembro 2003

Protejam-se dos afectos

Comemoremos. Com prendas, cordiais, e rabanadas. Não calemos o que deve ser dito. Nem nada do resto. Falemos, falemos sempre. Os nossos mortos aproveitam-se dos silêncios para aparecer. E nós não sabemos guardar-lhes o lugar à mesa sem inspirar receio, estranheza, piedade. Ah, e as crianças. Não devemos fazer sofrer as crianças. As crianças devem crescer no grau máximo de inconsciência. Nós somos peritos em construir cenários de felicidade. Não é este ano que esbanjaremos os nossos créditos. Comemoremos pois. E misturemos as palavras e os corpos, se for apropriado.
Mas dos afectos temos que nos proteger. Essa coisa complica tudo ainda mais. Sejam lá o que forem, dão ressaca. O inverno ainda é longo. E teremos que voltar, com uma cara que não nos comprometa a temporada.

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