Os Meus Livros, Kertész e Coetzee.
Tereza Coelho é a directora do magazine os meus livros, a que ela chama carinhosamente OML. Quem fala de livros tem a minha simpatia por inteiro. Tereza Coelho é aliás autora de uma façanha: ter tornado legível e atraente*o saber de Francisco Allen Gomes, aquele que é talvez o sexólogo português mais profundo (termo infeliz para o tema em questão, mas não me ocorre outro, de momento). No número de Novembro de OML Tereza Coelho, com José Prata, resumiu alguns livros de Coetzee, já traduzidos ou aguardando publicação entre nós. Vê-se que ainda não leu Elisabeth Costello. Mas de Desgraça, diz: "Na ficção contemporânea da última década , não há muitos romances tão bons como este."
Agora, no último OML, Tereza assina um editorial corajoso. É raro uma editora arriscar expôr os seus gostos pessoais, sobretudo se afronta o consenso. E ela fá-lo a propósito do último Booker Prize, tão aclamado, e de Pascal Quignard. Mas o importante é que Tereza descobriu o húngaro e gostou. Estava uma manhã nevoenta, e Tereza não queria falar do Iraque nem do país que temos. Confessa-se triste, por não ter encontrado quem escrevesse sobre Imre Kertész e A Recusa e dispara: " Penso que Kertész é um escritor melhor que o Nobel deste ano, de quem os últimos livros são feitos para toda-a-gente-gostar".
Os últimos livros de Coetzee são a Desgraça e Elisabeth Costello. De A Desgraça estamos falados. O desencanto com a África do Sul post apartheid, a história de um homem de idade a quem criminalizam o convívio racial e o amor intergeracional. Aqui estão dois temas de quem toda a gente gosta. Como é que a Margarida ainda não se lembrou?
Elisabeth Costello não é, ao contrário do que OML resumia"um livro sobre a celebridade, as emoções e o sentido da vida". É um livro que questiona o direito da nossa espécie em dispôr da vida das restantes, que connosco partilham o planeta. Mas que questiona a partir do coração, e não da ética, da antropologia, da evolução, da religião. Feito a partir desse lugar, o questionamento torna a vida insuportável. As cinzas dos campos de extermínio caem contínuamente sobre os nossos quintais e toda a inocência se torna cumplicidade.
Kertész é certamente um grande escritor. Ainda não tive tempo para o ler, mas junto ao elogio do Pedro Mexia o de Tereza Coelho para me aumentar a expectativa. Coetzee é um escritor enorme. Nem os temas que aborda, nem a forma como o faz, são pronto a vestir dos magazines literários, e sugeri-lo, mesmo se o dia é cinzento e o país também, não é um bom serviço para os leitores.
Felizes os que se apaixonam fácilmente. Mas antes, não era tudo tão mau, assim.
* A Sexualidade Traída, de Tereza Coelho e Francisco Allen Gomes, ed Ambar, 2003.
Agora, no último OML, Tereza assina um editorial corajoso. É raro uma editora arriscar expôr os seus gostos pessoais, sobretudo se afronta o consenso. E ela fá-lo a propósito do último Booker Prize, tão aclamado, e de Pascal Quignard. Mas o importante é que Tereza descobriu o húngaro e gostou. Estava uma manhã nevoenta, e Tereza não queria falar do Iraque nem do país que temos. Confessa-se triste, por não ter encontrado quem escrevesse sobre Imre Kertész e A Recusa e dispara: " Penso que Kertész é um escritor melhor que o Nobel deste ano, de quem os últimos livros são feitos para toda-a-gente-gostar".
Os últimos livros de Coetzee são a Desgraça e Elisabeth Costello. De A Desgraça estamos falados. O desencanto com a África do Sul post apartheid, a história de um homem de idade a quem criminalizam o convívio racial e o amor intergeracional. Aqui estão dois temas de quem toda a gente gosta. Como é que a Margarida ainda não se lembrou?
Elisabeth Costello não é, ao contrário do que OML resumia"um livro sobre a celebridade, as emoções e o sentido da vida". É um livro que questiona o direito da nossa espécie em dispôr da vida das restantes, que connosco partilham o planeta. Mas que questiona a partir do coração, e não da ética, da antropologia, da evolução, da religião. Feito a partir desse lugar, o questionamento torna a vida insuportável. As cinzas dos campos de extermínio caem contínuamente sobre os nossos quintais e toda a inocência se torna cumplicidade.
Kertész é certamente um grande escritor. Ainda não tive tempo para o ler, mas junto ao elogio do Pedro Mexia o de Tereza Coelho para me aumentar a expectativa. Coetzee é um escritor enorme. Nem os temas que aborda, nem a forma como o faz, são pronto a vestir dos magazines literários, e sugeri-lo, mesmo se o dia é cinzento e o país também, não é um bom serviço para os leitores.
Felizes os que se apaixonam fácilmente. Mas antes, não era tudo tão mau, assim.
* A Sexualidade Traída, de Tereza Coelho e Francisco Allen Gomes, ed Ambar, 2003.
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