31 março 2004

Ao Norte

Vincent enlouqueceu ao sol do meio dia. Entre o Tigre e o Eufrates é deserto. Na praia sobrevivo com o suor do teu corpo e a certeza que os maus dias sempre acabam. O verão são os incêndios, a pestilência das ruas, a alegria postiça dos resorts. Salva-se o recolhimento das cidades castelhanas na interminável sesta, e o mar, nos canais onde ele é profundo, variável e mortal.
Dias do Norte, que começam com neblina nas planícies e cincelo nos jardins. Dias de frio com as raparigas vestidas em doces camadas de tecidos, as faces vermelhas de prazer e a boca orvalhada. Dias de emoções rigorosas, em que a respiração se lê como os balões da banda desenhada e o que se lê nos balões são frases de pedra. Dias de pratos de resistência, sopas, molhos espessos, caldas, chá, um pão escuro de centeio e basílico. Dias em que, quando ninguém espera, o céu se limpa, e o azul é tão lavado que percebemos que se lhe chame firmamento. A essa hora, levadas placidamente por velhos que parecem rejuvenescer, as crianças enchem as ruas do Norte e nos olhos delas está a mesma gravidade dos dias do Norte.

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