Não nos misturemos demasiado
Eu vi, há um ano em Madrid, a mais comovente de todas as manifestações com que os povos da velha Europa se opuseram à guerra. E os que nesse dia ocuparam as ruas da cidade eram os mesmos que ontem caíram, quando de manhã iam para o emprego, sem se lembrarem que uma guerra não declarada está em curso. Não são os senhoritos que hoje vão falar nas manifestações, com uma lágrima em Atocha e a atenção já toda virada para as eleições do próximo domingo. Eu hoje quero estar com a minha gente, que não percebe nada de geoestratégia, nem de cálculo político, nem do funcionamento dos serviços secretos, nem dos grandes negócios do século. Aqui ou no Iraque, resta-nos alguma coisa mais do que sermos o exército eleitoral de reserva, as vítimas inocentes? Eu sei que nestes dias é grande o apelo para nos juntarmos e acreditar que que o que sentimos pode salvar-nos, e à humanidade. Mas devíamos manter a lucidez suficiente para não nos misturarmos com os negociantes de armas e de gente, os apóstolos das ideologias salvíficas, os prosélitos de religiões.
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