05 março 2004

Rosita

Que bem que estavas, que linda. Como me tenho esquecido de ti, que injustiça. Não comprar o El Pais de 3ª feira (à 4ª não tem o mesmo sabor a tua crónica), passar pela Louca da Casa e pensar que te podia deixar para mais tarde, como se o que tu dizes não fosse urgente. Estavas tão bem que até o Francisco descontraiu. Rosa Montero, filha de Canibal, mulher de biografias e de paixões, jornalista que sabe a necessidade da clareza e do "registo notarial ", que quando é jornalista “escreve do que sabe” e quando é romancista “escreve do que não sabe que sabe”. Tu, que ainda viveste sob Franco, falaste do valor da Velha Europa: um espaço de liberdade, de cultura e de tolerância. Uma terra de exílio e de acolhimento. Disseste tantas coisas importantes. Tão bem ditas. Imperdoável o Francisco não ter aproveitado até ao último minuto a tua presença rara, filha de Conrad e de Borges, filha de Quevedo e de Proust. Disseste: “Ler é a parte mais rica da minha vida”. Disseste:” A vida imaginária é real- toda a imaginação que usamos para viver”. As tuas mangas de malha preta em cima da blusa estampada do Custo ficavam bem. Não vás nos conselhos do Francisco. Passeios portugueses de automóvel? A pé, no Gerês, que é uma serra ibérica. Começamos já amanhã na Portela do Homem. Às nove e meia, combinado.

Rosa Montero
A Louca de Casa
ASA

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