17. Livrarias, diz: Livraria Popular
Não havia livraria nos Olivais. As minhas primeiras livrarias não eram propriamente livrarias. Eram bazares, onde eu, entre os onze e os quinze anos, prolongava a relação com os autores das estantes lá de casa. Era o tempo das Belazés, das D. Isauras, que estranhavam aquele consumidor frequente de Livros do Brazil e da Colecção Dois Mundos que lhes entrava pela porta adentro. Até que, com alguma relação com a Caminho, parece-me, surge nos Olivais uma livraria, que julgo ter-se chamado Livraria Popular. Creio que estava ligada a uma Cooperativa. Onde a par daquele fundo teórico que vinha na vaga de fundo de uma Revolução ainda próxima, encontrávamos desde os grandes autores até autores muito próprios de um certo fetichismo cultural de uma incerta geração de soixant huitards. Discos. No ar respirava-se os cantautores, os cantores de abril. Havia ali uma amizade entre os livros e aqueles que os vendiam, que passava para quem entrava. A mim passou-me. Ficou-me. Dois andares de estantes corridas, saborosas, o meu porto de abrigo. Ali mesmo ao pé do Vale do Silêncio. Um dia fechou, abriu falência. Ou, foi engolida pela silenciosa maldição do bairro em relação à cultura.
sent by jpn, Respirar o Mesmo Ar
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