13 abril 2004

24. Livrarias, diz: No Aeroporto

Aquela livraria improvável sempre me fascinou. A cidade tem muitas outras, embora em São Paulo proliferem as livrarias assépticas e modernistas. Não são melhores, nem piores. Mas como nunca achei o livro um objecto moderno, desconcentra-me o snob minimalismo de algumas delas.
Mas naquela livraria o tempo tem uma conotação especial, o espaço geográfico não existe, as fronteiras e as distâncias são apenas imaginárias. É como se fosse um ponto de confluência de toda a humanidade, de toda a civilização. Lá fora, soam as hélices agitadas dos aviões, embalando a leitura dos jornais estrangeiros. A improbabilidade de se gostar de uma livraria assim... As pessoas que se deixam vaguear indolentemente, esperando a hora de embarque. As diferentes línguas que correm entre as estantes. O soar pálido de uma bossa nova. Apesar de improvável, aquela livraria no aeroporto passou a pertencer a uma geografia das memórias muito especial.
Passadas algumas viagens, chegou a traição já esperada: mesmo que eu nunca tivesse reparado, havia um clone dessa livraria no andar debaixo, perto do check-in internacional. As mesmas pessoas, a mesma fraca selecção de livros, os empregados vestidos com os mesmos uniformes, pretos e modernos... A mesma bossa nova, que tocava ociosa.

//sent by B, Os Outros de Nós

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