Jammes, um burrinho na manhã
Todas as manhãs abro a porta do pátio ao meu burrinho Jammes (ler Jám) e ele sabe o caminho da venda. Na volta, já contei, traz o jornal e o pão fresco. Eu tenho o leite e o café aquecidos, a mesa posta no varandim e ele fica a ouvir as notícias com atenção. Às vezes encontro, com o pão, um frasquinho de compota, papoulas, malmequeres e sei que nesse dia está a Gina na venda e que são dela os mimos que fazem balouçar a cabeça de Jammes. Últimamente aparecem pequenos bilhetes. Como Gina é pouco letrada basta-me ver a letra para perceber que não foi na venda que juntaram o bilhete às compras da manhã. Ela assina com as várias graças que as mulheres têm nas suas cabeças de meninas. Um dia está trágica e é Isolda. No outro cheia de esperança e é Larissa. Enigmática e é W. E já foi Chantelle, Aninhas, um nome que não digo e é como uma brisa. Acontece que a aldeia é pequena e no caminho da venda só uma mulher podia, sem ser vista, pôr bilhetes daqueles na albardilha do burrinho. Não sei se ela se muda assim por se achar vária se por pensar que os dias se me alegram ao me sentir tão querido.
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