23 abril 2004

a lei da consciência

Vivemos no país das leis, buscamos a certeza e o conforto das acções legisladas, padronizadas. Queremos dar descanso à consciência. Não te esqueças de pôr o cinto, ah, vou para perto e mal calha que apareça algum polícia, — vê lá se ainda levas alguma multa. É o mesmo com as regras e os horários e as escalas, encontram-se por todo o lado, no trabalho, em casa, fora de casa, entre colegas. Acabam-se de uma vez as discussões acaloradas quando alguma coisa falha. Na segunda pões o lixo, terça a loiça na máquina, quarta lavar a retrete, quinta não podes chegar tarde e quando reparas o beijo de sexta também está na escala mas o pionés da emoção caíu. Para quê fazer favores que requerem imaginação se a solidariedade pode estar tabelada. Para que hei-de eu pedir um martelo emprestado, muito menos comprá-lo a meias, se posso comprar um novo só para mim. A única solidariedade que existe e resulta é a lavrada debaixo da secretária, se imoral melhor, quanto mais secreta mais inquebrável. Para quê maçar a consciência, melhor endeusar o legislador.

PC

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