23 abril 2004

Nada a ver com as guitarras estudantes

No Café Santa Cruz de Coimbra, quarta à noite, lançamento de Variações em Sousa de Fernando Assis Pacheco, na colecção de Poesia da Inimigo Rumor e, simultâneamente, do último número da Inimigo Rumor, dedicado a Ruy Belo (ver Alexandra Lucas Coelho no último MilFolhas).
Gustavo Rubim fez uma bem humorada evocação de FAP, actores da Escola da Noite e Diogo Dória leram poemas. O Café estava cheio. Mas nas mesas nem olhos nem mãos de bloggers. Quase tudo malta do Porto e quase todos cotas. Também não faz mal. Ele nunca teve nada a ver com as guitarras estudantes. De vez em quando, nos espelhos gastos do Santa Cruz, perpassava o ouriflâmio cu de Maruxa ou o som macio que fazia na mata a tua bicicleta. A Bonirre e a mim ( mesa do fundo, chá preto com limão), isso bastava.

Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudante: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das

pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas

amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente

um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente


Louvor do Bairro dos Olivais
in Variações em Sousa, Fernando Assis Pacheco, Inimigo Rumor, Coimbra, 2004

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