Nada a ver com as guitarras estudantes
No Café Santa Cruz de Coimbra, quarta à noite, lançamento de Variações em Sousa de Fernando Assis Pacheco, na colecção de Poesia da Inimigo Rumor e, simultâneamente, do último número da Inimigo Rumor, dedicado a Ruy Belo (ver Alexandra Lucas Coelho no último MilFolhas).
Gustavo Rubim fez uma bem humorada evocação de FAP, actores da Escola da Noite e Diogo Dória leram poemas. O Café estava cheio. Mas nas mesas nem olhos nem mãos de bloggers. Quase tudo malta do Porto e quase todos cotas. Também não faz mal. Ele nunca teve nada a ver com as guitarras estudantes. De vez em quando, nos espelhos gastos do Santa Cruz, perpassava o ouriflâmio cu de Maruxa ou o som macio que fazia na mata a tua bicicleta. A Bonirre e a mim ( mesa do fundo, chá preto com limão), isso bastava.
Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudante: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das
pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas
amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente
um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente
Louvor do Bairro dos Olivais
in Variações em Sousa, Fernando Assis Pacheco, Inimigo Rumor, Coimbra, 2004
Gustavo Rubim fez uma bem humorada evocação de FAP, actores da Escola da Noite e Diogo Dória leram poemas. O Café estava cheio. Mas nas mesas nem olhos nem mãos de bloggers. Quase tudo malta do Porto e quase todos cotas. Também não faz mal. Ele nunca teve nada a ver com as guitarras estudantes. De vez em quando, nos espelhos gastos do Santa Cruz, perpassava o ouriflâmio cu de Maruxa ou o som macio que fazia na mata a tua bicicleta. A Bonirre e a mim ( mesa do fundo, chá preto com limão), isso bastava.
Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudante: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das
pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas
amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente
um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente
Louvor do Bairro dos Olivais
in Variações em Sousa, Fernando Assis Pacheco, Inimigo Rumor, Coimbra, 2004
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