18 abril 2004

Nem todos

Caminhada de sábado. Lagoas do Marinho a 1500 metros de altitude. Os homens, mas não todos, caminham com os olhos nos Cocões do Concelinho. Sabem que é nesse circo glaciar que têm de procurar a fenda que leva aos planaltos de Carris. Os homens, mas não todos, levantam a cabeça para o vento gelado, são eles quem assinala, nos ares, a àguia real fêmea descrevendo paradas de uma viuvez sem consolo.
As mulheres, mas nem todas, sentem o cheiro das violetas do monte e das urzes em flor. Passam as mãos pelo granito martirizado dos muretes. Debruçam-se para o azedo. Enterram com prazer as botas na tundra enlameada. As mulheres, mas não todas, distinguem o piar aflitivo de uma ave e o brado de alerta de uma outra.
Os homens, mas nem todos, procuram os lugares da frente do grupo, lêem os sinais das mariolas, decidem das paragens e da velocidade da marcha. Alguns homens caminham atrás, atentos à dificuldade dos menos hábeis. Os homens, mas nem todos, poisam pesadamente as botas sobre as àguas dos riachos, ou saltam as valas para estender um braço às mulheres, mas não a todas.
As mulheres, mas nem todas, recolhem nas mochilas amostras de flores e de caules e raízes. E conhecem-lhes os nomes e os sabores.

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