20 maio 2004

1951, Oscar Peterson

desculpa se as palavras saiem um pouco onduladas flutuando e se falho uma ou outra letra sem notar enquanto abano a cabeça e tento teclar por cima das notas do piano e se os pés saltitam e me fazem perder o contacto com o chão os braços abrem e fecham e fico tonto com a náusea que pressinto antes da vertigem que o som me traz e se agora está escuro e em delírio vejo um piano escorregando sobre linhas de pauta onde um homem grande se curva e contorce com um engulho no estômago ou um nó na garganta e se só depois percebo que é a circulação do júbilo que o acomete pelos seus dedos longos e se então uma luz apenas mais clara que o negro me mostra que ele está de costas toca de olhos fechados corpo retesado e dedos imovéis e paira no ar a música que ouvimos em estridente silêncio que ele emitiu em formato respirável e vive para além de si. Aplausos?

PC

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