Debaixo do Sobreiro
Casaram-se debaixo do sobreiro. A árvore está sozinha no meio de um mato pouco agreste. A partir da casa chega-se por um carreiro de margens floridas. Cabem todos debaixo da copa da árvore, os convidados, as famílias e a conservadora do Registo. Esta cerimónia tem um significado que me escapa, porque estes campos, este horizonte dos países baixos, mesmo esta árvore, remetem para paisagens e tradições que não são as minhas. Olho para os convidados e vejo que alguns se comovem. E também não percebo a sua comoção. Ele, conheço-o, é um homem para todas as estações. Tem um currículo invejável. Além do mais fez as levadas da Madeira em nove dias, de uma à outra ponta da ilha, a costa vicentina em três, subiu ao Covão Cimeiro com neve e gelo e daí pelo carreiro dos Mercadores. Vai assegurar a estabilidade do casamento, a educação dos filhos a vir, algum desafogo nos rendimentos. Lê-se-lhe nos olhos e nas mãos, no cabelo ondulado, na forma sólida com que se mexe. Ela tem o ar nervoso das mulheres mediterrâneas. Não pode ser tudo perfeito debaixo do sobreiro.
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