03 maio 2004

Margarida e a carta

D. Corina Peters recebe uma carta de João Garcia, o jovem faialense apaixonado por Margarida. João não pode corresponder-se directamente com Margarida e D. Corina, uma senhora romântica, favorece esses encontros epistolares. João, filho de um contabilista que entrou em rota de colisão com a família Clarck, consciente desta dificuldade suplementar, resolve dirigir-se às duas. A uma manifesta reconhecimento, à outra promete amor. Dona Corina chama Margarida, lê ela própria a carta e entusiasma-se. Subitamente, o olhar de Margarida perde-se no contador.
Uma mulher apaixonada não se engana. Sabe que é a destinatária única, que o mais ancestral e efémero dos milagre resumiu, na cabeça e no corpo de um homem, todas as mulheres do Mundo. Margarida, que não era orgulhosa, não se importaria de partilhar com Dona Corina a escrita inteligente de João. Se o caso fosse de amor. Ora Margarida aborrece-se. As palavras de João distraem-na. Talvez Margarida já esteja com Robert: uma vontade de o deixar subir sem saber porquê. Ou já no convés do barco que a há-de levar para a Europa, coquete com os homens que dela se aproximam.
João Garcia não demorou a perceber. Sim, podia ainda haver entre eles uma segunda linha de coisas comuns e indirectas. Mas um homem aprende depressa o que deve fazer quando a mulher que ama se aborrece

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