12 maio 2004

A sessão na livraria de Angra (continuação)...

(...) . Eu já bebera, em pequenos goles, todas as garrafas de água destinada aos apresentadores, quando ela entrou.

Era magra, com aspecto de convalescente, uma aparente desatenção ao ambiente. Vestia bem, felizmente. Trazia um séquito de gente demasiado bronzeada, falando muito, sem nenhum respeito pela altura com que se deve falar nas livrarias em transe. Quando nos apresentaram deu-me três beijos. Pensei nos Países Baixos, em Beaudelaire, nos longínquos Utere da Flandres, e os lábios dela ganharam alguma cor. Usava um daqueles perfumes com cheiro a goivos, que esta primavera teima em vulgarizar. Era uma escolha apropriada para o lugar e a ocasião, entre a excessiva informalidade dos acompanhantes e a gravidade do representante da editora. Quando nos sentámos o barulho da sala cessou, numa expectativa que gelou o que me restava de plasma circulante. Disse-lhe: Margarida. Ia dizer qualquer coisa estúpida como: Já cá estão todos. Vai correr tudo tão bem! Mas só consegui dizer: Margarida.

(continua)

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