07 julho 2004

Algumas explicações para a derrota

Elas trouxeram para os relvados, os jardins, as praças públicas, os estádios e as praias aquilo em que são especialistas: a emoção , a subtileza, a cor, a fé, a delicadeza, a elegância. Mas havia no seu apoio uma enorme ambiguidade que enfraqueceu o apoio unanimista e como o verme na rosa, adoeceu a equipa na hora em que devia ser vencedora. Quem estivesse atento teria compreendido. A maioria não percebe as regras do fora de jogo. Suspeito que nem sequer as regras do jogo. Preferem as transmissões televisivas ao espectáculo ao vivo. Por causa dos grandes planos, sobretudo. Comentam os cortes de cabelo, os brincos, as olheiras. Não dizem alto, mas adoram as lesões, quando os rapazes ficam imobilizados pela dor e os massagistas e médicos lhes levantam os calções para pôr o spray ou o bálsamo. O guarda redes adversário lembra-lhes logo o Clooney Mas Mais alto. O médio Zagorakis é o De Niro Quando Novo. O pior é quando confundem toda a equipa grega com a Academia e a opinião se suspende. J., interno de uma especialidade médica, foi ver um jogo a casa de umas colegas. Eram dez mulheres e ele. O lanche foi indescritível. Elas tinham preparado preciosidades (J. é espanhol como já pereceberam). Ele sentiu-se do outro lado do espelho: a bola rolava entre Prada, DG e as compras da Victoria em Paris. Houve um momento especial: um grego derrubara o Deco destruindo uma ofensiva e fez-se silêncio em lugar de protesto ruidoso. Estavam a pensar se levavam o grego a jantar. J. tornou-se num adepto discreto das quotas.

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