26 julho 2004

Fluexitina, Good-bye

Os gajos disseram-me: Tu escreves à vontade. Mas de vez em quando escreve sobre livros. Não me custa nada. Toda a vida li. E agora que o meu trabalho é este, horas inteiras à espera, a leitura propicia-se. Não tenho a certeza se posso falar de tudo o que leio. Tenho andado a ler os outros blogs. Ninguém fala de alguns dos meus autores favoritos. De forma que vou começar pelos livros que eles me emprestam. Poesia. Um dia li um poema que era assim:

Poema de Amor
Alprazolam, domipramina, noradrenalina,
monoamina, serotonina, fluexitina.

(Pedro Mexia)

Fui ver o significado das palavras. Fluexitina não existe, não é assim. Fluoxetina é que é correcto. Escrevi ao poeta. Nem respondeu. Talvez ainda hoje escreva Fluexitina, diga Fluexitina quando declama a sua obra, julgue estar a tomar Fluexitina. Quando eles souberam não gostaram. Qual é a relevância? Só um estreante é que se importa com pormenores desses. Não te distraias com as árvores. Curte a floresta. Eu gosto das árvores. Decorei este poema. Fiz uma música que canto só para mim, nos turnos mais chatos.
Outro dia esbarrei com outro poema. Dizia o livro que Blanchot o tinha escrito a propósito do suicídio de Rigaut.

Phanodorme, Variane, Rutonal
Hipalene, Acetil, Somnothai,
Neurinase, Voronin, Good Bye.


Telefonei a um dos gajos. Que é esta merda? O Blanchot escreveu mesmo isto? Ele leu o Pedro Mexia? Outra vez os gajos a explicarem que devia moderar o meu espanto, que a questão da precedência não existe na literatura, que os poetas escrevem todos o mesmo poema no tempo sem tempo que é o tempo literário.
Relato este episódio porque foi a minha estreia literária. Quero dizer,o momento em que senti, pela primeira vez, uma impressão não já de leitor mas de crítico. Também decorei o poema a Rigaut. Também o canto. Talvez o prefira ao Poema de Amor. Está mais para o meu feitio, esta maneira de não ligar à morte. E depois, porra, este gajo, o Blanchot, ao menos foi ao Index Terapêutico.

sent by//Silvano

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