24 julho 2004

Heróis

Também eu tenho os meus heróis blindados. Gosto muito deles. Fico triste e calado se um deles se vai embora de vez. Morre. Hoje foi um desses dias. Não há homenagem capaz de acalmar a minha tristeza, aliás agravam-na por me lembrarem sempre que os podia conhecer melhor, procuro não ver. Hoje não quero conhecer nada de novo do meu herói e regresso, sempre, apenas aos traços que já conhecia. Quando a Rosete chegou já a conversa ía a meio, quase pedia desculpa por aparecer, mas não podia ser de outra maneira porque ela faz parte da minha vida. Caminhou connosco docemente como se tivesse escutado tudo desde o início. Estava muito calor e o meu reflexo nos seus óculos, certamente distorcido pela simetria que ela me dá, agradou-me como um fogo fátuo. Fico parado no tempo se alguém me traz uma revelação espantosa capaz de fazer tremer a imagem de um meu herói. Gosto de acreditar, em quem gosto de acreditar, até ao infinito. Não é um risco desiludir-me. Eu tenho tempo para esperar, também isso sei fazer. Sei que vou voltar a acreditar, em quem gosto de acreditar. Se alguém sofre com a desilusão sou só eu, ninguém me manda ser burro.

Jammes (soa Jáme)

PC

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