27 julho 2004

No Parque

À noite fui ao Parque novo. A cidade agora está diferente. Quase só gente do trabalho. Assim achei que podia ir ao Parque sem dar nas vistas. Sem ter medo de ouvir nas costas: Aquele gajo não é o Silvano? O que andou connosco na Quinta das Flores. O chapa da Quinta das Flores? Esse mesmo. Silvano! O que é que fazes, homem? Não te lembras de nós? Respondo sempre da mesma maneira: Faço de tudo. Mas eles percebem logo que eu não faço nada. Sim lembro-me deles. Combinavam jantares às escondidas, trocavam apontamentos, CD's e direcções na net, chamavam-me o chapa. Alguns deles nem devem saber o meu nome.
Mas agora o Parque está um mimo. Há pouca luz e é quase só gente de fora e do trabalho. Também estão uns gajos dos blogs e foi na mesa deles que me sentei. Gostei. Quem falava mais era uma gaja que no mínimo era psiquiatra. Os gajos tinham-lhe respeitinho. Ela repetia as frases menos brilhantes deles com um ar profundo e uma pausa no fim. Se houvesse luz, via-se que aquilo os punha um bocadinho tensos. A certa altura puseram-se a falar de cinema. A gaja deve namorar na Cinemateca ou ser filha do dono de um clube de video. Deu show a falar de filmes que me pareciam ser todos a preto e branco. O máximo foi quando ela se declarou "voyeur", como o Jean Louis Trintignant, no Branco. Todos aplaudiram menos eu. Eu pensava no Esquininha, que é o meu café. Se algum dia eu me atrevesse a dizer lá uma coisa daquelas tinha direito a denúncia à Judite e escuta garantida. O velho tinha razão: Tens que estudar se queres ser voyeur. Fui-me embora mais cedo que eu moro longe, tem outras coisas e a minha mãe não dorme enquanto eu não chegar.

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