19 julho 2004

Orquestra Sinfónica

Também os burros hibernam, de peito gelado, cansaço, desamor, teimosia. No outro dia a Rosete pediu-me o número do telemóvel, este mês lá em baixo na praça há espectáculos ao ar livre, pareceu-nos bem ir até lá. Ela tem-me enviado mensagens SMS, leio-as mas nunca lhe respondo, não tenho forma de lhe dizer que sem o sistema pata-livre não consigo escrever, parece-me que só ela não me vê como eu sou. Assim,também não lhe digo que as recebi, ficam no limbo das telecomunicações mal paradas, mas tenho medo de me trair. Hoje é uma orquestra sinfónica, ela olha para o lado e aponta de onde vem o trombone, eu aproveito a fuga à inspecção dos seus olhos para me deter naquele músculo longilíneo do pescoço que nasce de uma covinha no alto do peito, é forte e forrado de pele macia, chego a ver os poros individuais e a forma como a vida parece entrar e sair por eles rodopiando em espiral para a profundidade quente da pele. Sinto uma tremura, uma brisa providencial ajuda-me a justificar um cisco ou qualquer coisa ondulante no olho que explique o brilho exagerado. Aprendo novos nomes, a violeta, a caixa, o pizzicato, para mim o trombone sempre fora uma flauta baleia.

Jammes (musicalmente Jáaame)

PC

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