A culpa
Aquilo não se passou comigo, eu sei. Nem sequer é o síndrome de Bovary. Simplesmente publiquei as cartas de uma mulher cujo nome não recordo e que um dia, por um engano do córtex visual, passou a ter uma lagarta translúcida no campo visual. E do promotor de vendas que ela tomou por confidente, sem medir as consequências. Não foi nada comigo. Não conheço a mulher, não simpatizo com ela. Sempre tive medo de mulheres que levam pequenas vidas nas cidades de província do Sul, cidades de que desconheço os cafés, as creches, os cinemas, o sítio onde se compra o El Pais, cidades como Constança, Santarém, Tomar, que transportam o Tejo como uma doença de pele. Porque é que sonhei com uma mala de automóvel, a respiração de uma mulher inanimada junto ao meu pescoço, uma dor horrível nos pulsos e eram cordas . Porque é que acordei com remorsos de te ter deixado, à tua sorte de empresária, ao convívio de promotores, ao delírio de ciúmes do senhor Adalberto?
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