30 agosto 2004

A Sinagoga de Amsterdam

Andei para aqui a pôr bandeiras e a gritar nos estádios e a cantar o hino. Não me posso queixar, agora. Sou pelo multiculturalismo, pela excepção cultural, não sei como é que lhe chamam. Isto é, pelo direito dos povos à preservação das suas tradições, do seu património, contra o efeito esponja do cinema e da televisão americanos. (Também sou pela livre circulação de pessoas e de ideias na Terra e nesse espaço que é a Europa democrática. Mas isso é outra história, não é?). Mas há limites. E a propósito deste afloramento da jactância lusa que noto nalgumas reacções à visita do barco do aborto lembrei-me de uma história. Não foi há muito tempo. Foi há quinze gerações. Um rei a quem chamaram o Venturoso, por ordem do Vaticano, depois de converter os judeus, não resistiu às pressões do Santo Ofício e expulsou-os de Portugal. Foi uma sangria irreparável de saber, ciência, civilidade e diferença. Encontrei um descendente dessa diáspora em Istambul, há dois anos. Assinava Joseph, mas o seu verdadeiro nome era Yousouf e levou-me a conhecer gente que ainda se lembrava de um avô português chamado Isaac Abravanel que foi médico dos Duques de Bragança e depois de Mehmet II. Muita dessa gente, ilustre pela cultura, encontrou acolhimento em Amsterdam.

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