12 setembro 2004

Ainda aquela coisa chata

O Público de 10 de Setembro publicou, com o máximo relevo possível e sem qualquer eco até ao momento, o depoimento de duas pediatras sobre o uso da pílula abortiva no nosso país depois do primeiro trimestre de gravidez(convém sublinhar este aspecto para não alimentar confusões). Cinco por cento dos Prematuros de Muito Baixo Peso (menos de 1 500 gramas de Peso de nascimento) do Hospital Amadora Sintra nasceram após indução com Misoprostol. As grávidas desconheciam a idade gestacional, não percebiam que o feto era viável, ou estavam simplesmente desesperadas. "Parecem quase tentativas de suicídio, quando o companheiro as deixa ou ficam no desemprego", disse uma das médicas, presidente da Comissão Nacional Para a Saúde Infantil e do Adolescente. Muitos destes sobreviventes têm sequelas neurológicas, pulmonares, cardíacas, digestivas. Trinta por cento vão para instituições de acolhimento. O trabalho em que se apoiou este depoimento foi apresentado este ano à Faculdade de Medicina de Lisboa e ao Congresso Europeu de Perinatologia.
Esta intervenção foi quase isolada. Durante as duas semanas em que o barco do aborto esteve ao largo de Portugal quase nenhum obstetra, ginecologista, pediatra, perinatologista, neurologista, psicólogo, sociólogo, psiquiatra, técnico de segurança social, polícia, farmacêutico prestou depoimento sobre a tragédia das mulheres que abortam no país dos vícios privados e das públicas virtudes. Sauf mon cousin Germain, claro está, que não me lembro de ver tão interventivo, tão público, tão denunciante.

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