12 setembro 2004

Crime no Sul de França (parte 3)

E com estes pensamentos aproximava-me do edifício onde ia ter lugar o jantar. Edifício estranho, mal iluminado, com uma entrada lateral e uma disposição labiríntica. Os convidados percorriam corredores e salões com paredes representando cenas de refeições copiosas. De facto tratava-se de um engenhoso espectáculo de luz e som. O edifício era um cenário construído em torno da sala do restaurante. As imagens projectadas nas paredes correspondiam ao jantar a que os convivas acediam, de cada vez que tocavam em pontos determinados do cenário. Nessa altura, as imagens que a sala de jantar projectava, ganhavam em cor e nitidez ao mesmo tempo que um enrugamento do muro permitia a entrada. Mas o sistema encerrava-se ao fim de alguns segundos dificultando a entrada de grandes grupos. Tudo isto fui percebendo, mas tanto artifício e dificuldade começaram a levantar dentro de mim suspeitas sobre a abundância da refeição que nos esperava. E, desfeita a ilusão, a questão da comida começou a ter precedência pelo que recuei para uma posição que me permitia perceber a melhor saída do labirinto. Nessa altura vi a mulher e a amiga. Estavam rodeadas de rapazes cada vez mais ousados. O grupo, animadíssimo, dava pequenas corridas para um corredor onde se descobrira uma passagem e logo em seguida, reunia-se, de mãos dadas, junto a uma parede onde esperavam não falhar nova abertura. Pareciam miúdos numa festa de colégio. Quando tentava ensaiar uma corrida para entrar na onda deles vi o homem. Estava de pé, encostado à parede de um corredor, imóvel, mas a sombra sobre os olhos, a posição do corpo e das mãos assustavam.
O jantar foi agradável. Fiquei numa mesa com pessoas de uma outra excursão, quase todos italianos, e a conversa decorreu leve como os vinhos do Languedoc , o vol au vent e os crepes com chantilly. Eles conheciam o programa da viagem e sabiam que nos cruzaríamos de novo em Lyon. Para esses dias fizemos agradáveis combinações cujo cumprimento sabíamos improvável.
(continua)

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