25 outubro 2004

Morte em Lisboa

A posição de um sector da opinião portuguesa relativamente à pedofilia é um pouco perturbadora. Alguns não têm dúvidas. A questão da pedofilia confundiu-se com o processo da Casa Pia. Uma cabala contra o PS. Despacham os menores com uma piedosa declaração genérica de duas linhas e o resto do discurso é dedicado a erros de instrução dos processos aos presumíveis culpados, perseguição policial, atentado aos direitos fundamentais. Falar de pedofilia é coisa de plebeus, vulgarérrimo, um assunto de costureiras e domésticas. A pedofilia é, ou um episódio de bestialidade, se se trata dessas cenas que se dirimem entre padrinhos e afilhados lá das berças, tema para o 24 horas, ou uma preferência sexual, estilo Nabokov de Lolita ou o Thomas Mann da Morte em Veneza, se os envolvidos são gente como nós. Parece subentender-se que, como preferência sexual, devia ser despenalizada, embora ainda não seja oportuno agendar.
Os bem pensantes acham que o abuso sexual de menores acantonados nas casas de acolhimento é um tema da segurança social, uma coisa tão antiquada como os romances de Dickens. Pagam para não ver, não ouvir falar.
Um jornal de referência, na esteira da imprensa do coração, dedicou ontem as quatro primeiras páginas à publicidade da defesa de um réu. Oportuno, na véspera do julgamento, quando a parte contrária está manietada pelo segredo de justiça, ou desacreditada (como claramente se conseguiu com as vítimas).

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