18 outubro 2004

Um fim de mim


Li ontem o Aubade, do Larkin, como se fosse a primeira vez. Não me ajudou. Essa morte que não é serenidade mas solidão, dor, abandono era a crueldade de que não estava a precisar. Lodge, Stig Dagerman, a canalização e o computador que entopem ao mesmo tempo. Tudo me falava do mesmo. Era tão visível na minha pele como a escarlatina. Ainda não era noite e Loreta mandava dizer que não me contava mais nada daquele episódio da sua vida na cidade de L. Tudo por causa de uma pequena alteração no texto. Foi Bartleby, quase de certeza. Loreta descrevia o pequeno almoço do Hotel, enquanto o Mamute se aproximava, e Bartleby não o transcreveu por não lhe parecer relevante. Loreta deu conta e não gostou. É muito difícil manter uma colaboradora literária satisfeita, sobretudo se a história é em capítulos e ela se chama Loreta Granada. Todos os dias ameaça veladamente renegociar o contrato, deixar de escrever, introduzir pormenores que podem pôr em causa o bom nome do blog. Bartleby é um pretexto, eu sei. Mas o escrivão traz maus hábitos da Janela. Esperava encontrar, não digo humildade e reconhecimento, mas ao menos espírito de conciliação. Foi com soberba obstinada que ele me respondeu que voltaria a omitir a descrição do pequeno-almoço.
Não vejo maneira de Loreta voltar a entregar a narração de L. Talvez Varta, o Mamute. Eu sou do Mamute. Mas não sei se sobrevivo a Larkin e à escarlatina. Vou entregar o blog à Sofia e parar. Até perceber se é um exantema ou se são mesmo livores. O silêncio não será o mínimo sopro do Mal.

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