Vila-Matas, Sebald e Walser
Queria falar de W.G. Sebald e de Vila-Matas. No Mal de Montano (Teorema, nas bancas esta semana) Vila-Matas, ou Rosário Girondo, fala de Sebald por quatro vezes. Uma delas a propósito da sua morte, sexta-feira catorze de Dezembro, "parecia sempre recém-chegado de outra época: um homem ligeiramente antigo que, à vista de paisagens solitárias, deparava com vestígios de um passado em ruínas que o remetia para a totalidade do mundo.” Outra para lembrar um fragmento de Vertigem, em que "o passado, todo o passado, sem precisar de cartão de visita, sem que o invoquemos, está aí, oferecendo-se no presente. É emocionante, e aterrorizador.”
A primeira é uma breve citação, no início do seu Dicionário do tímido amor à vida, a segunda parte de O mal de Montano. Rosário Girondo, talvez o pai de Montano, narrador de Bartleby e Cª, reconhece, com W.G. Sebald, a necessidade do autor mostrar os seus trunfos e enumera vários diaristas. Um deles é Sérgio Pitol. Em 23 de Agosto de 1973, Pitol autografou um exemplar do seu livro El tañido de una flauta, que ofereceu a Vila-matas / Rosário Girondo. Sem que entretanto se tivessem voltado a escrever, o narrador de O mal de Montano, recebeu uma carta de Pitol datada de 23 de Agosto de 1993, exactamente vinte anos depois. Quando se viu confrontado com tal coincidência, Pitol respondeu nervosamente: "Algo debió pasar, eso seguro.”
Nessa manhã o narrador de Montano leu uma entrevista de Sebald no El Pais (trata-se provavelmente da entrevista de W.G. Sebald a Babelia e que seria a sua última entrevista). Aí refere que existe uma razão autobiográfica para a homenagem que presta a Robert Walser. O avô de Sebald morreu no mesmo dia que Walser, a manhã do Natal de 1956, também quando passeava sozinho nos campos cobertos de neve de uma aldeia, Wertach, muito próximo do hospício em que Walser viveu os últimos longos anos da sua vida.
E Vila-Matas conclui: alguma coisa se está a passar, isso é seguro. Talvez as ideias casuais de tanta gente incerta, as intuições de tanto zé ninguém, as inquietações de cada um, dos vivos e dos mortos. Talvez algum dia com fluido abstracto e impossível substancia, formem um Deus ou um tecido novo e com a luz de outra vida ocupem o mundo.
A primeira é uma breve citação, no início do seu Dicionário do tímido amor à vida, a segunda parte de O mal de Montano. Rosário Girondo, talvez o pai de Montano, narrador de Bartleby e Cª, reconhece, com W.G. Sebald, a necessidade do autor mostrar os seus trunfos e enumera vários diaristas. Um deles é Sérgio Pitol. Em 23 de Agosto de 1973, Pitol autografou um exemplar do seu livro El tañido de una flauta, que ofereceu a Vila-matas / Rosário Girondo. Sem que entretanto se tivessem voltado a escrever, o narrador de O mal de Montano, recebeu uma carta de Pitol datada de 23 de Agosto de 1993, exactamente vinte anos depois. Quando se viu confrontado com tal coincidência, Pitol respondeu nervosamente: "Algo debió pasar, eso seguro.”
Nessa manhã o narrador de Montano leu uma entrevista de Sebald no El Pais (trata-se provavelmente da entrevista de W.G. Sebald a Babelia e que seria a sua última entrevista). Aí refere que existe uma razão autobiográfica para a homenagem que presta a Robert Walser. O avô de Sebald morreu no mesmo dia que Walser, a manhã do Natal de 1956, também quando passeava sozinho nos campos cobertos de neve de uma aldeia, Wertach, muito próximo do hospício em que Walser viveu os últimos longos anos da sua vida.
E Vila-Matas conclui: alguma coisa se está a passar, isso é seguro. Talvez as ideias casuais de tanta gente incerta, as intuições de tanto zé ninguém, as inquietações de cada um, dos vivos e dos mortos. Talvez algum dia com fluido abstracto e impossível substancia, formem um Deus ou um tecido novo e com a luz de outra vida ocupem o mundo.
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