Junk on me
Hoje, para começar bem este ano, decidi deitar fora o lixo: tudo o que fosse científico e tivesse mais de cinco anos. Impressionado com o facto de, na análise curricular do último júri em que participei, não ter sido pontuada a produção anterior a 1999, decidi que o critério seria esse. Enchi seis sacos de material científico que acartei para os postos de reciclagem que ficam no passeio em frente. Depois decidi alargar o critério às publicações não científicas. Por que razão a ficção, a poesia, o ensaio haveriam de gozar de um estatuto diferente da ciência? Dezassete sacos de livros, seis de CDs. Após este despejo pensei que se tivera coragem de me desfazer da Cartuxa de Parma, do Carlos de Oliveira e da Ana Karenina a que propósito é que ia ficar com o Gonçalo M. Tavares. E decidi deitar fora todos os livros dos últimos cinco anos de que não fosse sentir uma falta, digamos, absoluta. Em seguida reuni os materiais que estivessem gravados em meios de suporte tecnologicamente obsoletos (disquetes, slides, cassetes, papel). Cinco sacos. Finalmente pensei que o critério de cinco anos se podia alargar à mobília. Como podia eu conviver com mobília tão antiga numa casa de repente tão jovem? Fiquei com uma cama, a mesa do computador e algumas estantes, aliás quase todas inúteis.
A minha vizinha, que assistia perplexa às movimentações, perguntou delicadamente se podia ficar com algumas coisas. Como suspeitei que estivesse interessada na roupa disse-lhe que já tudo tinha destino. You selfish bastard, disse ela entre dentes. Mas não me atingiu. Aquele, para mim, é um insulto com mais de cinco anos.
A minha vizinha, que assistia perplexa às movimentações, perguntou delicadamente se podia ficar com algumas coisas. Como suspeitei que estivesse interessada na roupa disse-lhe que já tudo tinha destino. You selfish bastard, disse ela entre dentes. Mas não me atingiu. Aquele, para mim, é um insulto com mais de cinco anos.
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