O Mal, Etty Hillesum e o sr. Finn
A Neisseria meningitidis.
O tsunami, a evocação de Auschwitz, o terrorismo islâmico fundamentalista, a ocupação do Iraque fizeram com que a questão do Mal voltasse às nossas preocupações. Hanna Arendt fez a cobertura do julgamento de Eichmann e escandalizou a comunidade judaica com aquilo que designou por A Banalidade do Mal : não existe na natureza humana nenhuma garantia contra o mal do totalitarismo. O terramoto de Lisboa tinha quebrado o optimismo dos iluministas e levado Voltaire a escrever: “ trabalhemos sem reflectir. É a única forma de tornar a vida suportável” (veja-se a este propósito o repto que cbs,o pó das estrelas deixou num comentário deste blog a propósito do tsunami e o excelente artigo de Manuel Fraijó no El País de sábado, sob o título Dios y el enigma del mal). O marxismo e a esquerda salvífica do século 19 tinham recuperado a ideia do homem bom a vir, nos amanhãs que cantam da sociedade sem classes. Essa idéia perigosa permitiu o desprezo pelos homens concretos existentes, o cerne mesmo da banalidade do mal. Este fim-de-semana, para onde quer que nos viremos, estamos confrontados com este espanto.N O Mil Folhas, António Marujo evoca Etty Hillesum ( www.salterrae.es), morta em Auschwitz , e que do Campo onde a assassinaram escreveu: o mal está nos outros e está também em nós…A barbárie nazi pode despertar em nós outra barbárie.
O mal não estava nela, que se queria ajoelhar e não conseguia ajoelhar.
Não existe mal. A propósito disto apetece-me contar a história do meningococo, mais ou menos como o sr. Finn, um infecciologista de Cardiff, o fez, numa tarde destas. O meningococo é uma bactéria. Vive nas nossas faringes e deleita-se com a nossa mucosa. Em Invernos frios, quase vinte por cento dos adultos o albergam. Às vezes acontece que passa à corrente sanguínea, onde se multiplica rapidamente e nos mata, num festim de sangue e defedação da pele. Esse extraordinário sucesso de algumas gerações de meningococos é também a sua morte. Não sobreviverão ao hospedeiro. Se os meningococos tivessem consciência haveriam de chorar as suas vítimas. Mas os meningococos não sabem o seu nome, não tiveram ainda o seu Kant e não discutem, como Voltaire propôs que fizéssemos, o sentido último da sua existência.
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