13 março 2005

Língua de bois

Todos os sábados (ou logo no dia seguinte se o trabalho na repartição é duro) procuro a coluna da Helena Matos no Público. Na primavera passada dei comigo a concordar com ela sete semanas consecutivas. Gosto dos livres pensadores, dos que, como na canção, se obrigam a fazer o pino para ver as razões do lado contrário. Cresci contra o pensamento único. A cartilha salazarista, o manual do Bonifácio, a missa de domingo, as conversas de família de Marcelo. E também a vulgata marxista do PCUS e das edições Avante. O artifício a que Helena Matos, com algum sucesso, recorre, é o de identificar posições de esquerda que caracteriza de forma difusa com o "pensamento único". Do ponto de vista simpático de heterodoxa, ela recupera quase sempre as posições mais conservadoras.
A recordação do 11-M dominou esta semana. A forma como o actual governo espanhol o fez, pareceu-me boa: prosseguimento do inquérito até aos aspectos mais recônditos, Cimeira de Madrid, cerimonial de luto pelas vítimas. A manipulação política que Aznar tentou fazer do terrorismo, é conhecida, e saíu-lhe caro. A Cimeira de Madrid fez o que deve ser feito: o combate ao terrorismo envolve uma forte e predominante componente política, que reforce o diálogo entre as religiões, o respeito entre as civilizações, o reforço da legalidade internacional e a salvaguarda dos direitos individuais. Mais ou menos o contrário do que a "legislação patriótica" americana, a intervenção militar no Iraque, a ocupação americana do Iraque estão todos os dias a fazer. Ora, numa semana como esta, que uniu os espanhóis nas ruas e sentou em Madrid aqueles por onde passa a luta que pode ser vitoriosa contra o terrorismo, o que fez Helena Matos? Investiu contra Zapatero, os jornalistas "de causa", e os reféns libertados no Iraque.
A jornalista sem causas indignou-se por " uma vez libertados,(os jornalistas ocidentais) a sua primeira preocupação é declararem que foram contra a intervenção militar do seu país". Matos leu mal os jornais da semana. A primeira preocupação da jornalista italiana que não cita (chama-se Giuliana Sgrena) foi escapar ao fogo mortal do amigo americano.

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