26 março 2005

Senzala



Entro no prédio e começo a descer. A cave tem lojas pequenas de gemas e lapidação. Uma está fechada. Na outra, uma mulher dorme ao balcão, desamparada. Desço outro andar. Está escuro, mas ao fundo do corredor vê-se o vale por um janelo e o cerrado parece querer entrar. Mais abaixo o lance de escadas conduz a uma parede rebocada à pressa. Quando me volto está um sujeito em cima, que não ouvi chegar:
- Pereira. Você conhece o Pereira?
- Não. Não conheço. Já viu em cima?
O homem ocupa toda a largura da escada.
- Grande. Você é o Pereira, não é. O meu negócio é gemas e me mandaram arrumar um assunto consigo.
Estende-me uma mão, abre um sorriso, os dentes são a única luz daquele desvão.
Devo aceitar a mão do preto, estendida? Gritar? Não sou o Pereira. Quem ouviu os que aqui gritaram? Quem ouve o porco a ser sangrado?

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