27 abril 2005

Lúcia, sou eu


Lúcia, a minha colega de Nelas, lê este e outros blogs. Suponho que escreve. Como todas as leitoras, Lúcia sofre da síndroma de Flaubert, imagina que o escritor fala de si próprio. Ao ler os blogs, Lúcia passou a sofrer também da síndrome de Pessoa ele-mesmo. Não sabe a quem atribuir a autoria dos textos. Já lhe expliquei que este blog é assinado. Quando está escrito Sofia, é Sofia, um cometa. Quando está escrito Luís, sou eu. Ela pode confirmar pelo IP dos Correios, que é onde posto quase tudo, a net de banda larga está cara e já nem tenho linha telefónica em casa. André Bonirre e PC compraram uma pequena propriedade em Trás os Montes, e como os crentes enérgicos dedicam-se à agricultura biológica e à procriação de ternas criancinhas, quase indistinguíveis. Mas Lúcia acredita que eu publico os escritos do Silvano, que Bartleby tem cabeça para algo mais que os registos de eventos, ou que os meus amigos do café A Flor da Conchada, onde ela nunca foi, me passam manuscritos à hora da bica. Talvez Lúcia imagine que outras colegas dos Correios, mulheres interessantes a quem nunca tive a felicidade de ser apresentado nas formações, me mandem versos iguais aos que ela escreve às escondidas. Agora é quase sempre assim. Se me acontece qualquer coisa mais conseguida, um alexandrino perfeito, um soneto mais solto, no telefonema do almoço é seguro que vai dizer:- Gostei muito. Não é teu, pois não.

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