A minha livreira
A livraria está decadente. Já não chegam as novidades. Sabe-se lá porquê, alguns clientes teimam em regressar. No escaparate há cada vez mais Papas, Paulos, Putas. A minha livreira foi destacada para os serviços administrativos, de vez em quando sai de uma porta dos fundos, atravessa a livraria na direcção de uma estante onde faz uns arranjos imperceptíveis e desaparece quase sem se notar. Há tempos que não me guarda nenhum livro, não me mostra com entusiasmo nenhuma novidade. Hoje, quando me viu, nem levantou os olhos. Ficou de lado, como se eu fosse o representante da Editorial Verbo a querer deixar o catálogo do ano. Depois, eu não sei ver quando as mulheres são naturalmente más ou só executam uma discreta vingança, deixou entrever o livro que traz consigo: Equador. Já não gosta de mim. Em que livro a desiludi?
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