03 maio 2005

O lado das corujas

Há dez anos comecei a coleccionar corujas. Corujas do campo, das torres, dos campanários, dos celeiros. E mochos-galegos também. De madeira, de cristal, de minerais raros, de sisal, porcelana. Acumularam-se numa sala, primeiro eram dezenas depois centenas. Os que me conhecem dão-me corujas. Ou mochos.
Hoje, ao chegar a casa, pareceu-me que alguma coisa tinha mudado. Estava sentado num cadeirão velho, o sol já estava baixo. De repente notei que as corujas olhavam todas para o mesmo lado. As corujas têm os olhos enormes fixos às órbitas e uma coluna cervical muito maleável. Talvez por isso sejam muitas vezes representadas com a cabeça voltada para um lado. Mas as corujas voltavam-se todas para o mesmo lado. Não vou dizer para que lado se voltavam porque há agora muitos leitores que a tudo atribuem um significado, suspensos dos sinais, das energias, do sentido oculto, dos desígnios, dos chás e das agulhas, das dietas e da meditação.Mas as corujas estavam todas voltadas para a porta, e à hora a que escrevo, embora ninguém tenha entrado nem rigorosamento nada tenha acontecido, é assim que permanecem.

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