27 junho 2005

Nos dois anos de A Natureza do Mal

Há dois anos a Sofia escreveu aqui o primeiro post. Queríamos falar dos poetas sem qualidade, das pessoas invisíveis, do voo nocturno das rapinas, da solidão dos grifos nas arribas. Eu estava numa cela da Penitenciária de Coimbra, de onde nunca deveria ter saído, e a Sofia trabalhava então na Casa dos Mortos, amortalhando amorosamente bloggers terminais. Vivíamos o tempo do pós guerra do Iraque, onde alguma amabilidade era difícil. Alguns amigos de aventura reconheceram-nos: o Joaquim do Respirar levou-nos ao Carlos Alberto Machado, um dos poetas para quem abríramos o Mal. A Sarah da Espuma parecia gostar de nós. Depois, nos fogos, conhecemos as meninas do Tempo Dual, a Little Black Spot, a Janela Indiscreta, o Mundo Imaginado, o gajo do Ford Mustang, o Torradas, o Clandestino, o Bruno do Avatares, o Cinema Xunga na sua versão de mármore, os putos da Tasca, a Zazie, a Margarete. A seguir o Bonirre, o meu alter-ego sem defeitos, apareceu, e com ele o PC. Com o Luís Eternuridade alistámo-nos no sector feminino da Glória Fácil. O Filipe e o PC do Mar Salgado eram leitura de todos os dias. A blogosfera dos ricos nunca nos ligou, infelizmente. O Aviz ainda tentou, mas depressa lhe faltou a paciência. O Zé Mário foi simpatiquíssimo e a Bomba gentil. Continuámos a achar a escrita blogosférica do Pedro Mexia tão boa como a sua melhor poesia e a procurá-lo para onde ele se mudava. E não foi esta a nossa única constância, nos primeiros meses do Mal, que é do falo, agora.
Depois escrevemos todos os dias, nas férias, nos ciberquiosques rascos de aparthotéis do Algarve, de países rudes sem til nem cedilha. Resistimos aos abandonos do burrinho, do PC, e ao inesperado silêncio do Bonirre. Resistimos à absurda hostilidade dos colegas de trabalho, aos comentários anónimos quase sempre óbvios, à incompreensão dos tios e dos primos, ao desdém de quem acha que isto não é um posto sério, e nos olha como os padres de antigamente aos putos com as borbulhas da masturbação.
Nós não paramos. De cada vez que tivermos a felicidade de as encontrar, continuaremos a escrever as palavras que não levam a nada, nem a lado nenhum, e que Agustina ontem celebrava em Eugénio. A dizer amem-se aos amantes. A procurar a rapariga que talvez seja florista nas mulheres que de manhã saem dos autocarros para os empregos. A ver, em cada Congresso, Loreta aparentemente nos braços do Mamute. A levantar a cara para que se vejam bem as lágrimas com que escrevemos. A caminhar, das cumeadas ao leito do rio, onde o falcão desafia o abutre. A dizer, do Manel Maria e dos apoiantes, e dos broxistas, o pior. E que os nossos amigos e amigas são lindas e lindos (e tantos que já nem cabem nos links da coluna ao lado), escrevem bem, dizem as coisas que fazem melhor o dia, e que nos orgulhamos deles, assim.

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